travessuras da meia noite
É quando o silêncio irrompe a noite, junto com a penumbra dos locais em que a lua não brilha.
É quando os amantes perdem nomes e tornam-se, deitados, O’s e A’s.
É quando a criança travessa, procurando diversão, sai de sua cama e se diverte em solidão.
É quando os rancores se dissolvem. Ou quando eles ganham combustível.
A meia noite é o início e o fim. É a circularidade dos dias não repetitivos.
E é nessa escuridão, no som do vento que bate na janela, na incompanhia dos acompanhados, que a obscena diversão ganha espaço. Na meia noite, não há pecado.
O horário permite, dizem as más línguas. O horário tira os limites do puritanismo e traz à tona o desejo de viver.
Que não sejamos antiquados.
Veja a meia noite como a liberdade em forma de tempo. O tempo, que nos prende, agora para e nos liberta.
Com a meia noite, novos rostos surgem, novos sonhos urgem, novos corpos se assanham. Eles se tocam embaixo das cobertas das estrelas e se amam até sozinhos.
A criança brinca e sabe que não poderia. O horário não permitiria. Então nós nos livramos das proibições. Desinibidos e à mercê das vontades, nós abraçamos a onda noturna.
Saboreando vinhos que não poderíamos beber.
Tocando pessoas que não deveríamos amar.
Rindo de piadas que não sabemos contar.
A meia noite, soturna e distinta, vem para banhar os incontroláveis. Incontroláveis esses que somos nós. Nós que cansamos de podar os passos e os tatos. Tatos que, presos há tanto, vem com sede e louvor.
E louvando a noite, louvando os corpos, louvando o tempo, louvando os segredos, a surdina, o perigo, a adrenalina, louvamos a vida. Vida essa que é vivida, de maneira plena, à meia noite.