sen . ti. do.

laura
3 min readMay 10, 2023

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09/05 — 22:11

Em meio à necessidade de cumprir obrigações, vou de uma página a outra no navegador. Saio da busca de emprego, vou para a escrita de um artigo. Saio do artigo, vou para a produção de um trabalho final. Saio do trabalho, vou para a busca de possibilidades de pós-graduação. Saio dos sites das Universidades, volto para a busca de emprego. Saio, vou. Saio, vou…

Lembro de uma entrevista falha de um processo seletivo que participei.

"Recalculo rota muito fácil", tento convencer o recrutador. Sei o que parece: sou uma desistente nata. Quando me canso, vou embora. Abandono livros na metade, deixo séries sem conclusão, canso das pessoas e profissões. Acho que foi ali que errei…

Enquanto passo de página em página, penso no motivo de tudo. Sempre penso no motivo de tudo. Procuro entender o sentido de tudo, porque sempre procuro entender o sentido de tudo. Mas por que sempre procuro entender o sentido de tudo?

Penso no que estou fazendo, no que fiz e no que vou fazer. Penso no futuro, no almoço de amanhã, na programação para o Réveillon, no meu trabalho daqui alguns anos. Penso no tempo que tenho, que tive, que terei, se é que ele existe. Penso nas decisões que tomei, se elas foram as mais espertas. Penso se a felicidade vale o custo. Penso no preço da vida e das coisas que tem nela. Penso se faço sentido, na minha falta de consistência, no meu desejo de mudar. Penso em tanto e penso o tempo todo.

"Recalculo rota muito fácil"? O que é fácil? Saio de um pensamento a outro em questão de segundos, mas que, dentro de uma cabeça conturbada, parece uma eternidade. Não sei se isso é fácil, mas é o que conheço.

Ao contrário do que dou a entender, não desisto com facilidade. Tenho o mau costume de tentar demais. Abro muito meus braços achando que consigo abraçar um mundo muito maior que meu limite e não largo até que meus ombros se cansem de se alongar. Sou apaixonada por muita coisa e assim me deixo ser.

Mas paixões mudam e eu entendo essas mudanças. Procurando sentido nas coisas, investigo minuciosamente cada aspecto do meu universo particular. O que faço e deixei de fazer, o que quero fazer e o que me nego a tentar. Questiono, me coloco em dúvida e passo a revisar tudo que me constitui. E assim recalculo rota.

Esse processo, que dura de um milissegundo a uma vida inteira, está sempre rondando as esquinas e vielas do meu cérebro. Na busca incessante pelo motivo e sentido das coisas, encontro desafios, que tento enfrentar, mas também posso encontrar algo maior que a resposta: a ausência dela.

Quando não consigo me entender, me justificar ou ver sentido nas minhas escolhas, acabou. Sou jovem e erro muito, mas me permito continuar errando nisso — afinal, ainda não sei se é um erro. Se não me vejo nas coisas, também não consigo me fazer presente nelas. Não que não me esforce para tentar. Faço tudo o que me cabe e me dedico na busca por razões, afinal, a incerteza de si é a parte essencial das escolhas que fazemos nesses vinte e poucos anos. Mas nem sempre isso basta.

Recalculo rota muito fácil. Depois dos pensamentos ininterruptos, das dúvidas sobre mim mesma, das buscas por motivos e justificativas, tomo pelo menos uma decisão: ou continuo na infelicidade do desencontro comigo mesma ou aposto no risco de me reavaliar e, quem sabe, me encontrar novamente.

Tenho assumido muito as consequências da segunda opção. Procuro me achar em cada canto que me brilha os olhos e abro mão daquilo que não há espaço para quem eu sou. Vivo pelas paixões, pela vontade, pelo ânimo da primeira experimentação. Na busca por um caminho que nunca me foi mapeado, recalculo as rotas de forma muito fácil...

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laura

aspirante a escritora | estudante de jornalismo pela ufmg | enfj | tentando falar sobre a vida